domingo, 29 de abril de 2012



Guardar Rancor e Estourar de Raiva
por Dick Poplin
Uma senhora escreveu para um escritor de um jornal com os sentimentos feridos.  Ela tinha sido convidada para jantar na casa do filho pela primeira vez após o casamento, e sentou-se à esquerda dele, enquanto a mãe da esposa se sentou à sua direita, contrariando as regras da etiqueta.  Ela pretendia nunca mais retornar à casa do filho.

Se eu fosse o filho, provavelmente me teria sentido culpado exatamente por essa falha de etiqueta, não porque eu pretendesse insultar minha mãe e honrar minha sogra, mas porque ignoro completamente as sutilezas das finezas sociais.

Será que nós, como cristãos, guardamos mágoa contra outras pessoas por negligências reais ou imaginárias? Se aquela mãe cumpre a promessa de nunca mais visitar o filho, haverá inimizade entre eles e uma fila de simpatizantes de um lado ou de outro que podem nem saber o que ocasionou a inimizade.

Dessas pequenas coisas advêm as divisões e as facções na igreja.  Paulo disse que o ódio ("inimizades" na Revista e Atualizada) é uma obra da carne.  Barnes afirmou o seguinte a respeito da palavra ódio em seu comentário sobre 2 Coríntios e Gálatas:  "No grego, ódios, no plural. Antipatias, falta de amor, produzindo contendas e dissensões" (p. 383).

Esta palavra é o oposto de agape (amor).  Podemos ter algum entendimento dessa obra da carne quando entendemos o fruto do Espírito que se lhe opõe, o amor, como revela Mateus 22:39, Romanos 3:10 e Mateus 7:12.  Amamos o próximo como a nós mesmos quando não causamos mal a ele e não lhe fazemos nada que ele não quer.

O ódio é vingativo, retaliatório, produzindo rancor e mágoa em relação às outras pessoas.  Além de causar dano às outras pessoas, é prejudicial para aquele que o nutre no coração.  Torna-o amargurado e o corrói por dentro.  Praticar essa obra da carne é possuir as qualidades que produzem inimigos.  Podemos ter inimigos, mas eles não podem surgir por causa da nossa malfeitoria.  Paulo disse:  "Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens" (Romanos 12:18).

As seitas e as facções brotam das inimizades.  Os problemas nas congregações muitas vezes se atribuem a "conflitos de personalidade".  Fico pensando se não seria melhor dizer "inimizades".

Dizemos que alguém estourou quando perde o controle.  O ferro de um martelo ou de um machado escapando do cabo pode causar muito prejuízo (veja Deuteronômio 19:5).  Iras significa ira acalorada ou paixão, surtos ou ataques de raiva.  Essa obra da carne é perigosa para os cristãos como o é o cabo solto do machado numa floresta cheia de homens trabalhando.

Nos ataques de raiva, a língua se solta e as coisas são ditas sem que se possa voltar atrás.  Tiago compara a língua ao fogo, do qual uma só faísca pode causar um grande incêndio (Tiago 3:5-6).  Quem se ira com facilidade age tolamente, atiça a contenda e transborda na transgressão (Provérbios 14:17; 29:22).  "Cruel é o furor, e impetuosa, a ira" (Provérbios 27:4).  O presbítero não deve ser rápido em irar-se, nem ser dado a brigas (1 Timóteo 3:3; Tito 1:7).

Algumas pessoas se orgulham de ser iracíveis, achando que isso denota resistência ou força, mas o escritor de Provérbios afirmou:  "Melhor é o langânimo do que o herói da guerra, e o que domina o seu espírito, do que o que toma uma cidade" (Provérbios 16:32).  Outros justificam os seus acessos de raiva dizendo:  "Eu sou assim mesmo, nasci desse jeito", passando a culpa para Deus, que os fez, os para os antepassados de quem pensam ter herdado esse traço.  Mas podemos controlar-nos.  Devemos despojar-nos da ira (Colossenses 3:8).  Não nos seria mandado fazer algo de que não fôssemos capazes.

As obras da carne e o fruto do Espírito não se combinam.  Não é possível produzirmos o fruto do amor e ao mesmo tempo nutrir inimizades no coração, e não podemos exercer o domínio próprio, um fruto do Espírito, e ter acessos de raiva; mas o amor, fruto do Espírito, eliminará as inimizades, e o domínio próprio nos impedirá de "estourar".

Os bebês em Cristo que, antes de ser filhos de Deus, eram culpados de inimizades e de iras, podem experimentar problemas com elas.  Nós que já somos crescidos não.  Já devem ter sido eliminadas.  Os cristãos jovens devem crescer nisso bem como em outras áreas.  Antes de relacionar as obras da carne e o fruto do Espírito, Paulo disse:  "Andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne" (Gálatas 5:16).  A palavra escondida no coração nos impedirá de pec ar (Salmos 119:11).

Alguém que por um instante fracasse na questão das inimizades e da ira pode encontrar o perdão de Deus por meio do arrependimento, da confissão e da oração. 

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Pilatos e Sua Mulher

 


O verdadeiro caráter de um homem se revela quando ardem ao seu redor  as chamas da adversidade. Assim ocorreu com Pilatos. No término do ministério de Jesus, Pilatos desempenhava um papel-chave na crucificação do Filho de Deus. Pilatos fez o que era errado por causa da influência da multidão turbulenta.
Pilatos queria agir corretamente. Ele queria libertar Jesus. Diante dos acusadores de Jesus, Pilatos declarou sua convicção: "Não vejo neste homem crime algum" (Lucas 23:4). Pilatos tentou não menos de três vezes persuadir os judeus a libertar Jesus (Lucas 23:13-22). A princípio, ele sugeriu castigar Jesus e em seguida libertá-lo (Lucas 23:16). Depois ele lhes falou mais uma vez, desejando soltar Jesus (Lucas 23:20). Por fim, ele os desafiou pela terceira vez em resposta à exigência deles de que Jesus fosse crucificado. "Que mal fez este? De fato, nada achei contra ele para condená-lo à morte" (Lucas 23:22).
Não se trata de um equívoco por parte de Pilatos. O texto é claro: "Porque sabia que, por inveja, o tinham entregado" (Mateus 27:18). A esposa dele tocou mais ainda a sua consciência. Sentado na tribuna para julgar o caso, recebeu da esposa um recado. "Não te envolvas com esse justo; porque hoje, em sonho, muito sofri por seu respeito" (Mateus 27:19). Quantas vezes, pela graça de Deus, a consciência do homem é incentivada a agir justamente?
Às vezes temos a tendência de pensar que basta "saber o que é certo" ou "querer fazer o que é certo". Muitas pessoas amenizam a consciência turbulenta por meio de um estudo detalhado da Palavra e uma aceitação intelectual posterior para com a verdade, que é correta. Também muitas pessoas acham muito conforto em estar favoravelmente inclinadas a tudo o que consiste em bom comportamento. No entanto, o Senhor não estava à procura de pessoas que fossem apenas "simpatizantes da causa". Jesus queria discípulos que carregassem a cruz.
Pilatos fracassou como líder. Em vez de levar o povo a tomar a decisão certa em relação a Jesus, o povo é que o levou a tomar a decisão errada.
O jogo de passar o bastão começou no Éden, quando Adão tentou passar adiante a responsabilidade de seu pecado, acusando a esposa e envolvendo Deus na história (Gênesis 3:12). Pilatos, em vez de enfrentar corajosamente o desafio apresentado a ele logo que surgiu, fez uso de um oportuno pormenor jurídico. Aquele Jesus era galileu, e Herodes estava na cidade. Pilatos sem hesitar mandou Jesus para Herodes, na esperança, sem dúvida, de evitar qualquer prejuízo a si mesmo naquela questão.
Quando Herodes mandou Jesus de volta, Pilatos mostrou então a fraqueza de seu caráter ao recusar-se a declarar a sentença, baseada na própria convicção de que Jesus deveria ser liberto. Obviamente, várias pessoas queriam Jesus morto. Estavam dispostas a fazer muita arruaça e estavam prontas para arruinar a carreira política de Pilatos (João 19:12) se ele não quisesse cooperar com elas.
Nessa altura, o verdadeiro caráter de Pilatos começou a ser mostrado. Pilatos estava disposto a agir corretamente S desde que não lhe fosse custoso. Se os judeus concordassem, Pilatos estava perfeitamente inclinado a agir corretamente com Jesus. Mesmo que os judeus discordassem, mas deixassem o assunto por conta dele, Pilatos ia querer agir de forma justa. Mas, se fazer o correto significaria que os judeus iriam prejudicar Pilatos profissional ou politicamente, então Pilatos não estava mais disposto a fazer o que era certo. Pilatos fez o que acreditava ser o mais vantajoso para a sua carreira política.
De qualquer modo, não era difícil de perceber o que estava para acontecer. Pilatos começou cedo a evidenciar certas falhas de caráter. Pouco a pouco, ele começou a negociar algum tipo de compromisso. "Só me deixem espancá-lo e depois eu o solto." Por que concordar com o espancamento? Ele sabia que Jesus era inocente. Estava convencido da retidão de Jesus e da inveja dos judeus. Pilatos já estava sugerindo um meio-termo na sua trama sinistra. Aprendeu aqui uma lição. Os pequenos passos de transigência em direção ao pecado são seguidos por saltos gigantescos em direção à impiedade. O juiz disposto a prejudicar um inocente pode ser levado a cometer todo tipo de injustiça. Pilatos já havia mostrado a sua disposição de fazer o mal. Os judeus só precisavam convencê-lo a fazer o mal que eles queriam.
Pilatos se mostrou um fracassado infeliz, mesmo sabendo o que era certo e ainda que tivesse sido incentivado pela esposa a agir dessa forma. Que dizer do vizinho que estuda a Bíblia com você e aprende a verdade S mas se recusa a deixar a vida mundana que leva? E o marido que freqüentou os cultos na igreja com a esposa durante anos e foi incentivado por ela e pelos filhos a se converter S mas se recusa a ser batizado porque os pais dele não entenderiam? E o cristão que descuidadosamente se envolve de novo no pecado e foi encorajado por vários irmãos a se arrepender S mas se recusa por causa da dificuldade que é para ele essa mudança? E o cristão que sabe o que é certo, mas está mais preocupado com o que é politicamente correto do que com o que é genuinamente correto? Esse é o caminho de Pilatos.
Pilatos tomou a decisão politicamente correta. Com a consciência carregada com o peso do pecado, ele lavou as mãos na presença dos judeus, fingindo não ser responsável pelo que se passava ali. Sua carreira política estava preservada, sua reputação com o povo se manteve em alta. Ele era o herói por um momento. Mas vendeu a alma para sempre.

-por David Thomley